A matemática é uma linguagem descritiva do objeto; ela não fala com o objeto, nem de si, nem tampouco consigo mesma, mas apenas descreve o objeto "calada"( no bojo do teorema), sem emitir opinião, dogma, ou analisar o objeto. É uma linguagem sem diálogo, em monólogo.
Aliás, assim falam as linguagens da
ciência, ou seja, as variegadas linguagens que caracterizam o objeto da
ciência, que é una como a substância ou o ser e não várias ou "ciências"
como pensa o vulgo e os cientistas atuais em sua carência ou ignorância
epistemológica e ontológica, axiológica, filosófica, enfim.
Tanto a química, a física, a antropologia, a sociologia, enfim, cada
ramo da árvore da ciência, se apresenta ou apresenta o objeto
travestido em uma das várias linguagens específicas da ciência, ciência
esta que é uma, única, una e não várias "ciências", porém sim seus
objetos e a linguagem usada na ciência para descrevê-la enquanto ciência
debruçada sobre determinado objeto, sempre na forma de monólogo, ao
contrário da filosofia que questiona e fala todo o tempo todo com seus
objetos e mesmo com seus objetivos.
A filosofia sobrevive do diálogo em
seu estudo e mais especificamente da dialética, uma forma privilegiada
de diálogo ou de estudo do objeto e do objetivo. A filosofia separa,
porém não se cala sobre o objeto e sobre o objetivo e estabelece tal
diálogo, na forma da dialética de Zeno de Eléia, o eleata, todo o tempo.
Aquilo que preenche ou é conteúdo de linguagens é o ser e o não-ser, o
bem e o mal, o masculino e feminino, enfim, as polarizações, as quais
estão extensas no espaço da realidade natural e sensível, no caso do ser
( ou um, número um, na matemática, aritmética, ou do primeiro átomo ou
átomo de menor número ou massa atômica, na química, etc. ), e no espaço
imaginário ou intelectivo, no caso do não-ser ou o número zero, numeral
que exprime o negativo, o nada, a anti-matéria, na física quântica.
São
as polarizações entre o existente e inexistente, ou existência e
essência ( conceitos medievos ), ficção e realidade, que fazem as
linguagens e as movimenta "polarmente", pelos pólos ou em meio à tensão
que preenche o espaço imaginário ou real entre o pólo positivo e o
negativo, zero e o um ( numérico e não numérico ), o todo e o nada,
etc.
Esse o motor e torque que move o espaço tenso ou em tensão, quer
seja tensão natural, entre polaridade do imã ou elétrica, dentre outras,
ou intelectuais, no cado do todo e do nada, meras concepções de fluído
ou índole filosófica, em tropel.
O ser, não obstante, é polifônico e não vem se esgotar nas polaridades;
ultrapassa-as, não se quedam apenas naquele espaço do lugar-comum entre a
polaridade positiva ( real, fática, natural, mundana, existente) e
negativa (intelectual, imaginária, inexistente, em essência pura,
sagrada ).
De mais a mais, o ser ( multi-polarizado) é visto de vários modos e com muitos atributos que
fazem aparentes modificações na essência da substância, que é imutável
e eterna.
O ser para o homem não é somente o que é dado pela realidade
na relação com o fenômeno, mas o que o homem modifica no ser, mormente
ao por o não-ser, que é nada, porém exercita a linguagem abstrata.
Na
realidade do pensamento humano o não-ser é outro ser posto, nema espécie
de "anti-matéria", porquanto o pensamento do ser humano vive entre a
realidade e a idealidade , o que existe e o que não existe, contrapondo o
mundo num contraponto que dá no princípio do contraditório, o qual é
essencial à compreensão do princípio da identidade e faz parte dele,
constrói esse princípio desconstruindo-o, na filosofia do
construtivismo, que é a forma que o ser acha de se por integralmente no
mundo.
O homem pensante cria no corpo do ser um objeto que ele, o ser, não
possui como atributo, não concerne ao ser , mas ao homem pensante, ao
modo de Zeno em meio ao paradoxo ou ao labirinto de paradoxos que fecha
seu pensamento a toda rota de fuga ou saída honrosa, honorável,
possível, passível.
O ser e não-ser ( e similares), neste diálogo ou
dialética, são dois elementos de linguagens, esteios das linguagens. A
distinção entre o ser e o fenômeno está na origem do pensamento, que não
pode observar o ser ( coisa-em-si) senão por instrumentos ( e portanto
parte de uma observação dependente do objeto utilizado na técnica e
conotação fraca ) e o ser enquanto dado manifestado no fenômeno, que dá
um ser meio real e com outra metade irreal, surreal, em conotação forte,
severa. o estudo filosófico do fenômeno é obra da fenomenologia.
Outrossim, estão em opúsculos.
O objeto da ciência é o ser em sua descrição exata, no conteúdo do que é
exato em linguagens, porém não em realidade; na realidade não há
exatidão, mas caos ; a exatidão é uma platonização ou um tipo platônico,
uma forma de pensamento colocado no espaço e não de realidade, um sonho
de realização, cm tendência à perfeição utópica, idílica, que pode ser
observado na geometria ( nas miríades de geometrias em estudos ), com suas figuras imaginariamente perfeitas ou
as formas perfeitas de Platão : as ideias. A perfeição em pensar, em
esculpir figuras abstratas, basilares, representando ou postulando
princípios do espaço com seus axiomas, corolários, escólios,
proposições, juízos. O espaço e as idéias, ambos formas concomitantes,
têm, outrossim, seus princípios.
O objetivo da ciência é a técnica ou tecnologia, não realizar um estudo
do ser, mas, principalmente, fazer o ser polar ou transformá-lo
industrialmente, em artefato, que é outro ser, este da feitura do ser
humano, dado em linguagens de equações e depois realizado pelo homem (
"homo faber") em matéria e energia, assim como os objetos geométricos
são dados na mente com outro objeto e objetivo, modificados, em
indústria, depois em escala industrial ; aliás, o objeto ou o ser
construído ou desconstruído ( desconstrução), e o objetivo mudam conforme o ser venha a
sofrer as mutações que a arte, o labor, a engenho e a habilidade do
homem proporciona e põe em objeto inovador, que não prescinde de
objetivo inédito. A inovação do objeto, do pragma, norteia outro caminho
para o objetivo, que , senão, fica defasado, obsoleto, arcaico.
No fenômeno o ser é representado, quer dizer, é apresentado desde o
pretérito, ou no passado, e não está , pois, presente, no tempo, porém
fora do tempo real, que é o presente : sem realidade ou existência,
excepto a existência dos sentidos que o captam, os recolhem ou colhem no
mundo das coisas. Daí, é representado tal qual a luz da estrela que
vemos agora é representada, porque sua luminosidade vem de um passado
remoto, e sua luz observada agora, viajou muito para chegar ao olho
humano, na velocidade da luz. Quiçá, a estrela em foco nem exista mais,
nem esteja mais emitindo.
Aliás, todo ato de representar é um ato que
remete ou se refere a tempo pretérito; logo, na representação não há
presente, mas presença do ser que se remete ao passado remoto ou
imediato com presença no pretérito, pois, enfim, o presente já é
passado, quando chega à percepção humana, de ato a fato.
Não o percebemos imediatamente, mas mediatamente, porquanto o tempo que se
leva para compor o ato em fenômeno já constitui um tempo pretérito,
como, aliás, dí-lo o prefixo "re"( para trás, no pretérito), que encetam
palavras que exprimem o tempo passado ; senão vejamos: recuar, rever,
requerer, repetir, representar ( tirar do passado ou pretérito e por no
presente como presença do homem pensante, porém nunca como tempo
presente, porque o presente mesmo não é nos dado conhecer, mas apenas
vivê-lo e enquanto vivendo, existindo não há representação da vida em
ato imediato, apenas é possível uma representação da memória de vida,
no fato que deriva do ato.
O presente vivido com o ser a percebê-lo imediatamente, ou a
coisa-em-si, no sentido de linguagem filosófica, não existe, não há, é
impossível, pois a percepção não acompanha a vida, que vem antes (pré),
enquanto o pensamento vem posteriormente (re). Não há presença do ser em
percepção, mas sim na vida. o ser é ausente no ato, porém pode ser
representado no fato, como a luz da estrela cintilante que vemos hoje no
céu, conquanto ela, a estrela, já tenha emitido tal luz há milhões de
anos-luz.
O fenômeno tem liame com a sensibilidade, que dá o ser representado, ou o
não-ser, que se passa por ser, porquanto fora do presente não há ser
presente, não há ser algum, mas apenas não-ser.
O ser é, enquanto coisa
em si, ou seja, coisa no homem, no tempo presente, algo vivido ou
experenciado no homem e pelo homem, no tempo em que o homem atua, vive,
existe; tempo vivo, vital, que pode e é vivido, no ato, porém não
pode ser percebido : é imperceptível, não passa pelos sentidos, e
tão-somente toma fumos de conhecimento, naquilo que não perceptivo, não
sensível, ou seja, na apercepção do intelecto que, assim, outrossim,
conhece a coisa em si, não no sentido kantiano, que mira a razão ou de
Shopenhauer que atira na volição como ser em si.
Trata-se
de um ser
pensado, não vivido; parte existente, parte essencial. o ser não está em
presença senão da vida, a qual não percebemos; no entanto, refugiamos
na apercepção intelectual para realizar esse ser, compô-lo de pensamento
e de realidade mista, não fenomênica. Vivemos no presente, mas somente
percebemos e experenciamos o mundo e o tempo como pretérito, no tempo
passado para a memória, a qual cumula fatos, ou fabrica fatos conhecidos
com o "material" ou os resquícios ou reminiscências dos atos vividos, pois é cumulativo.
A coisa-em-si é um não-ser no fenômeno, algo em natureza que que não
partilha a coisa com a sensibilidade, pois o ser sensível do homem não
percebe, imperceptível que é a coisa, que é um ser em si, não para o
outro, não para a percepção, mas para a apercepção intelectiva; porém a
coisa percebida pelo intelecto em si ( intelecção coisa ou ser de
intelecto ), tem expressão na imaginação, em parte, e em parte na
razão, a.qual põe o quadrado e a raiz do quadrado : a quadrada,
quádrupla, hermética em si como a coisa-em-si.
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